Todas as fotos publicadas são de minha autoria, tiradas com telemóvel.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Memórias


Foto minha



Ao ouvir uma conversa entre os meus netos sobre as gulomisses da Páscoa, ovos e amêndoas de chocolate!

Recuei no tempo e vieram as recordações de como foi a minha Páscoa desde os meus oito anos idade em que a minha mãe me abandonou até aos treze, altura em que deixei a Aldeia onde nasci.

Pois bem, umas semanas antes da Páscoa o meu pai dava-me a tarefa de ir ao campo apanhar junco verde, cortava-o com uma foice, fazia feixes que transportava à cabeça até a casa, colocava-o na eira a secar, que demorava uns dias, enquanto isso preparava tábuas, pedras e cordel, objectos que necessitava para fazer os teares, quando o junco já seco, os serões eram preenchidos a fazer as esteiras à luz de um candeeiro a petróleo pendurado num barrote da alpendrada.

Na semana da Páscoa era uma correria tremenda, altura em que se fazia uma limpeza geral à casa, retirar todos os quadros com imagens de Santos e um ou outro com fotografias da família, que existiam pendurados em pregos espetados nas paredes, assim como o mosquiteiro onde se guardava o peixe frito.

Da cantareira retirar e lavar todas as louças que normalmente não eram usadas durante o ano, caiar as paredes com cal (não se usavam tintas) esfregar o chão de tábuas com sabão amarelo, despejar os colchões, lavá-los e voltar a enche-los com camisas de milho (palha das espigas do milho) voltar a colocar tudo no sítio, e colocar as esteiras novas.

Nesse tempo o dia Santo não era à sexta feira como hoje, era quinta de tarde e sexta de manhã, altura em que não se podia fazer nada daquilo que falei, também não se podia lavar roupa, nem cozer broa, diziam os antigos que se o fizesse-mos estas coisas apareciam manchas com o sangue de Cristo, então era uma tarde e uma manhã de total descanso, continuando as tarefas na sexta de tarde e no sábado, uma das últimas era ir de novo ao campo apanhar mais junco bem verdinho para o colocar no chão do pátio e também em frente do portão para receber o padre no Domingo de Páscoa.

E era nesse Domingo o único dia do ano em que eu estreava roupa e uns tamancos às flores, apenas para ir à missa nesse e nos outros domingos, (o resto do ano vestia a roupa que tinha muita dela remendada e descalça fosse Verão ou Inverno) depois da missa vinha à nossa casa o Padre acompanhado pelo sacristão e um outro senhor, trazia na mão uma saca de pano com amêndoas muito pequeninas, mas muito saborosas, deixava umas poucas num prato em cima da mesa da sala de onde retirava o folar (dinheiro) que o meu pai dava (não muito, ele era forreta nestas coisas) o padre benzia a casa e ia embora, ao sair do portão o senhor que o acompanhava deitava um foguete, ou dois dependia do folar que lhe era dado, assim era a tradição.

Seguia-se a minha ida a casa dos padrinhos, levava comigo um ramo de louro, ou de oliveira para a minha madrinha, o folar que me davam era sempre igual, tanto na madrinha como no padrinho, levavam-me à sala deles onde existia uma mesa com uma toalha branca pão e pratos com tremoços e azeitonas, para os afilhados, comia o que quisesse (acho que nunca recusei, era dia de festa e não podia dar-me a esse luxo) depois davam-me um pão com um ovo e uma mão cheia de amêndoas pequeninas (iguais às que o padre deixava) vinha embora, uma visita muito rápida.

E foram assim as minhas Páscoas na minha Aldeia.


Para todos vós desejo-vos uma Páscoa feliz!

31 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...


Vi. Senti tudo, Adélia!

Boa Páscoa e um beijinho emocionado.

Laura

Catarina disse...

Recordações de uma tradição que se vai perdendo, suponho.
Feliz Páscoa, Flor!: )

Maria disse...

Que partilha boa...!
Obrigada!
Páscoa Feliz!
Maria

cantinho disse...

Uma Páscoa humilde, mas linda.
Um beijinho e Santa Páscoa.

chica disse...

Adorei ler tuas recordações tão legais. Tudo mudou muito mesmo. Na minha casa, tias e avós não permitiam nada de barulho. Músicas na 6 feira eras sacras.( confesso que não gostava,rs)

Mas hoje tudo mudou e parece que tudo se fala e pensa apenas nos feridos ou feriadões.

beijos, FELIZ PÁSCOA pra ti e teus! Tuuuuuuuuuuuuuuuudo de bom,chica

Turista disse...

Querida Flor, obrigada por teres partilhado connosco as tuas memórias de infância, desta época.
Gostei muito. :)
Beijinhos grandes.

Anónimo disse...

gostei de ler as suas recordações, Flor. Muuuuitoooo!
Beijinho e Páscoa Feliz

Agulheta disse...

Querida amiga! Grandes memórias e muitas emoções contidas em cada palavra,a vida nem sempre foi boa para todos,só para alguns.Adorei ler todas estas palavras.Beijinhos e porque não com chocolates e tudo que mereças.Feliz Páscoa

Rosa dos Ventos disse...

Páscoas muito sofridas! :-((
Mas a memória suaviza as dificuldades vividas!

Abraço

Nadine Pinto | Fotografia disse...

Adorei, obrigada pela partilha. Na minha famelga não há tradição nenhuma por esta altura, mas venham as amêndoas, eheh.
Beijocas e boa Páscoa.

Mariposa Colorida disse...

Tal e qual como nós lá no Norte. :)

Rui disse...

... e que bom é recordar, Flor ! ...
às vezes com dor, outras com muita saudade, sempre com uma certa nostalgia, ... mas recordar é isso mesmo ! ... é viver, o bom e o mau !

Gosto muito de te ler, querida amiga !
Passa uma Boa Páscoa ! :))
.

JP disse...

Memórias doces....


Feliz Páscoa minha amiga,

Beijinhos

Luna disse...

lembranças amiga de tempos dificeis, aí sim eram mesmo dificeis que nada havia, eu morava na cidade o padre não ia lá não havia essa tradição e amendos ou rebuçados eu só sabia que havia quando via nos frascos da mercearia mas o sabor só depois de mulher experimentei,
boa pascoa querida

Lídia disse...

BOA PASCOA ADÉLIA!!!

GOSTEI DE LER AS TUAS LEMBRANÇAS DE PASCOA!!!
NO RIBATEJO NEM ESSES COSTUMES HAVIA!!!
MAS SEI QUE PARA O LADO DE LEIRIA ERA ASSIM, A MINHA FAMÍLIA ESTIVERAM LÁ UNS ANOS A FAZER SEARAS DE TOMATE!!!

PELO RIBATEJO APENAS AS LIMPEZAS ERAM COMUNS, E AS AMÊNDOAS PEQUENINAS DE AMENDOINS!!!

1 BEIJO AMIGA!!!
LÍDIA

Ju disse...

Obrigada por partilhares connosco a tua Páscoa de antigamente! Gostei muito de ler e parece até que vivi o momento!

Um beijinho grande e uma Páscoa feliz.

R disse...

Uma Páscoa Feliz para ti e para a tua família. Bjs

lino disse...

Uma Feliz Páscoa par ti!
Beijinho

Fê blue bird disse...

Amiga Adélia, tiveste uma infância muito difícil, de trabalho e poucas recompensas, muito diferente decerto das dos teus netos.
Ficaram as recordações e penso que algumas feridas.
Desejo-te amiga a melhor Páscoa possível.

beijinho emocionado

Graça Sampaio disse...

Querida Adélia! Vida de trabalho e de sofrimento a tua! Sabes, toda esta descrição fez-me recuar ao tempo em que vivi na Vieira (Vila) em 56/57. Aí assisti a tudo isso e nunca mais me esqueci! Eu, menina da cidade grande,de repente mergulhada numa realidade tão diversa da minha, vivi isso tudo e nunca esqueci. Aprendi a tirar água à picota, a ir à caruma com o ancinho, a empalhar garrafões... tudo isso com a nossa "criada", uma menina que teria uns seis ou sete anos a mais de que eu... Foi muito marcante e, garanto, aprendi muito.

Boa Páscoa, minha querida!

São disse...

Adelinha, fiquei emocionada e assim te abraço, desejando-te uma Páscoa renovadora e de esperança-junto aos teus.

Janita disse...

Querida Flor.

Recordar é viver e na vida passamos por coisas boas, menos boas e más. Adorei que tenhas partilhado connosco essas recordações que muito me emocionaram. Foram tempos difíceis, mas que as coisas mais simples tinham uma enorme importância e valor para nós.
Eu lembro-me dos embrulhinhos de chocolate envolto em papel colorido e brilhante. Que valor isso representava para mim...

Beijinhos e Boa Páscoa para ti e toda a família, Adélia.

Unknown disse...

...e foi assim no nosso tempo...
Aqui as amêndoas eram apenas as que o sr padre oferecia.
Para chegar para os filhos o pai e a mãe ficavam sem nada.

O junco era para espalhar no chão à entrada de casa e ainda colocavam duas fileiras de ramos de louro fresco.

Os foguetes eram por conta do dono da casa. Funcionavam como um sinal da aproximação da visita pascal - compasso.

Hoje damos coisas aos nossos meninos que naquele tempo nem se sonhavam...

Anónimo disse...

oi Flor!
Embora retratando uma infância de muito trabalho restou a grandeza de um coração puro e sensível. Obrigada por partilhar tuas linda lembranças.
Amada...Que a páscoa renasça em seu coração e você comungue sentimentos puros de amor, fraternidade e carinho. Que a páscoa seja uma celebração da vitória pela ressurreição e uma vida realmente nova aconteça a cada novo amanhecer. Que a comunhão do amor e a paz sejam abundantes em teu coração e Cristo permaneça vivo em tua vida. Que Jesus ilumine teus caminhos para que a felicidade seja uma constante nas veredas da tua existência. Uma feliz e abençoada páscoa para você e sua família.
Beijos de chocolate recheados com carinho e afeto
Gracita

Sandra Subtil disse...

Memórias com travo amargo/doce...

Feliz Páscoa, amiga!
Que seja doce em afetos e que se renove o que de melhor existe em cada um de nós.

beijinhos a toda a família

Runa disse...

A memória é como os Padres da Aldeia. Guarda tudo. Os bons e os maus momentos.
Espero bem que esses tempos dificeis, que descreves com um realismo comovente, não voltem a assolar-nos, mas dúvido muito que isso não aconteça, pelo rumo que as coisas tomam...

Um Feliz Páscoa, junto aos netinhos, com muita luz e harmonia.

Abraço amigo
Runa

Gisa disse...

Lindas memórias Adélia! Imagino o gosto das amêndoas.
Um grande bj querida amiga e FELIZ PÁSCOA!

Maria Rodrigues disse...

Memórias de outros tempos guardadas para sempre no coração. Minha amiga que a Páscoa seja o renascer de amor, sáude, paz e harmonia. Uma Páscoa muito feliz.
Beijinhos
Maria

Lilá(s) disse...

Uma linda partilha, que nos faz lembrar que os tempos eram bem difíceis!
Querida amiga uma feliz Páscoa.
Bjs

Nilson Barcelli disse...

Nas aldeias era mais ou menos como disseste.
Tudo mudou... mas fica aqui registada a tradição, para memória futura.
Minha querida amiga, tem uma boa semana.
Beijo.

Vivian disse...

Ah!Minha amiga...impossível não se emocionar ao ter-te!
Não deve ter sido nada fácil...
MUITO obrigada por compatilhar tuas memórias.