Todas as fotos publicadas são de minha autoria, tiradas com telemóvel.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Memórias

Neste últimos dias na blogosfera e FB tenho lido com alguma emoção  publicações que falam sobre o dia de Páscoa quando eram crianças. 

Reais de quem as publica, para mim é como se fosse um filme de ficção  cientifica.

Eu comecei a trabalhar  muito cedo , muito mesmo, a partir dos meus 8 aninhos.

Recordo que nessa altura o dia Santo era à quinta feira de tarde e sexta de manhã. 

Será que algum de vós se recorda de o dia Santo ser assim? 

Era uma tarde e uma manhã em que era proibido trabalhar na minha Aldeia.

No  entanto antes da Pascoa era para mim uma agitação tremenda e dolorosa, desde eu ter que retirar das paredes as molduras de fotos de familiares antepassados e dos ainda presentes, retirar os quadros dos muitos santos espalhados por tudo quanto era sitio, limpá-los e voltar a colocá-los, mas só no fim de eu caiar as paredes e estas estarem secas.

De joelhos esfregar com uma escova e sabão amarelo o chão de tábuas, por fim ainda passava com um pó avermelhado para dar cor, colocar esteiras novas de junco, feitas por mim, com junco que durante o ano eu ia apanhar ao campo, fazer feixes, traze-los à cabeça, colocá-lo numa eira para secar, no fim de seco fazia as esteiras  aos serões, depois de terminar as tarefas da casa.

Desfiar palha das espigas do milho para encher os colchões e travesseiros onde dormiamos.

Retirar toda a louça da cantareira lavá-la e voltar a coloca-la, louça que só usávamos uma vez no ano, no dia de Páscoa, o único dia do ano em que eu estreava roupa nova e uns tamancos.
Neste dia ia à missa, como todas as pessoas da Aldeia, tinha que beijar os pés de um bonequinho de barro que diziam ser o Menino Jesus.

Vinha para casa colocar junco muito verdinho (que eu apanhava no campo no sábado) no pátio e à entrada do portão, para receber o padre que logo aparecia depois da missa, ia benzer a casa e buscar o folar, dinheiro colocado pelo meu pai num prato, que o padre retirava e deixava umas poucas de amêndoas muito pequeninas, mas saborosas, ao sair o portão, dois senhores que o acompanhavam acendiam um ou dois foguetes, dependia da quantidade do folar.

Depois almoçava-mos e seguia para casa do meu padrinho e da minha madrinha, tanto um como o outro, o folar que me davam eram iguais todos os anos, em casa de cada um encontrava uma mesa com uma toalha branca, composta com pratos de tremoços e azeitonas, pão e vinho, comia até me apetecer, depois davam-me um pão. Simplesmente.

De volta passava a um pinhal onde apanhava flores iguais a estas, chamava-lhe "campainhas da Páscoa" chegava a casa despia a roupa nova e os tamancos, que só voltava a usava aos domingos para ir à missa.

Foto minha


E assim foi o dia de Páscoa durante alguns anos, de uma criança, que não foi criança. Eu.

15 comentários:

chica disse...

Interessante lembrar e ver como eram comemoradas as datas... Mesmo não tendo sido criança , hoje em dia, há tantas crianças que tem de tudo, tem o que querem e muito mais e não são felizes!

Feliz Páscoa e tuuuuuudo de bom pra ti! beijos,chica

Maria disse...

Querida amiga, vivi cada momento do seu preciosos relato...eu tive infância, mas a Páscoa não foi de todo a época mais marcante desse tempo...!Hoje passo especialmente para desejar uma Páscoa Feliz com Paz e Amor!!!

Rosa dos Ventos disse...

Apesar de ter tido uma infância feliz não me recordo da Páscoa na minha aldeia ter essa envolvência!

Uma doce Páscoa

São disse...

A minha família não seguia rituais de nenhuma religião e as recordações que tenho relacionam-se todas com o Natal.

Não posso dizer que tive uma infância tão dura como a tua, mas posso queixar-me da total falta de carinho de minha mãe desde que eu nasci até que ela morreu, num crescendo que acabou em ódio da parte dela-

Que DEus ilumine quem nos proporcionou a ti, a mim e tantas um infãncia sem alegria nem carinho!

Minha querida Adelinha, que a tua Páscoa seja de esperança , luz e amor ao pé do Rodrigo e de quem é importante para vós.

Abraço apertado e fraterno.

Unknown disse...

Tantas crianças tiveram vidas assim, iguais às suas dores e privações.
Talvez hoje saiba dar mais valor à vida porque aprendeu a vivê-la noutra dimensão.
Não sei se viver a Páscoa é ter mais do que temos ou se é encher a barriguita de coisas boas.
Pascoa é uma festa que quer dizer passagem e aí todos estamos convidados.
Recordar é viver e no meu tempo também era assim a tarde de quinta feira Santa e a manhã de Sexta.

Janita disse...

Um beijinho grande, Adélia!
Felizmente, eu tive uma infância feliz, mas o mesmo não posso dizer da vida de adulta.
Cada um de nós tem a sua cruz para carregar, minha Amiga!

Um grande, grande abraço e votos de muita alegria e amor ao lado de quem amas e te ama.

Janita

ONG ALERTA disse...

Interessante...
Feliz Páscoa beijo Lisette.

Catarina disse...

Boa Páscoa, Flor. Que os teus dias sejam mais leves e mais felizes de hoje em diante.
Bjos : )

Anónimo disse...

pretty nice blog, following :)

lino disse...

A minha não foi melhor até aos 10 anos!
Beijinho

Graça Sampaio disse...

Tantas crianças a quem foi tirado o direito à infância e à adolescência! E depois vêm-me com a treta de que «antigamente é que era bom»!!

Beijinhos sentidos, querida Flor!

Boa Páscoa.

Lilá(s) disse...

Já te li no face...por isso hoje venho desejar-te uma:

P░Á░S░C░O░A ...•°✿✿º°。... F░E░L░I░Z

Beijinhos

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Hoje passando para desejar uma Feliz Páscoa , plena de amor e paz, junto de todos que te são queridos.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Pedro Coimbra disse...

Gostava de dar este texto a ler a muito idiota que tem saudades do passado.
Um passado que não conheceu, muito menos viveu.
Beijinho

Teté disse...

Infelizmente, crianças sem direito a terem infância eram uma constante no nosso país, pelo menos até ao 25 A. E mesmo depois algumas continuaram sem ela...

Soeiro Pereira Gomes, no seu livro "Os esteiros", fala dessa triste realidade.

Pessoalmente, tive a sorte de ter uma infância feliz, que só me traz boas recordações. Mas suponho que se não tivesse, tentava esquecê-la e fazer do presente e do futuro uma vida melhor. Apesar dos percalços que todos sofremos de vez em quando...

Beijinhos