Neste últimos dias na blogosfera e FB tenho lido com alguma emoção publicações que falam sobre o dia de Páscoa quando eram crianças.
Reais de quem as publica, para mim é como se fosse um filme de ficção cientifica.
Eu comecei a trabalhar muito cedo , muito mesmo, a partir dos meus 8 aninhos.
Recordo que nessa altura o dia Santo era à quinta feira de tarde e sexta de manhã.
Será que algum de vós se recorda de o dia Santo ser assim?
Era uma tarde e uma manhã em que era proibido trabalhar na minha Aldeia.
No entanto antes da Pascoa era para mim uma agitação tremenda e dolorosa, desde eu ter que retirar das paredes as molduras de fotos de familiares antepassados e dos ainda presentes, retirar os quadros dos muitos santos espalhados por tudo quanto era sitio, limpá-los e voltar a colocá-los, mas só no fim de eu caiar as paredes e estas estarem secas.
De joelhos esfregar com uma escova e sabão amarelo o chão de tábuas, por fim ainda passava com um pó avermelhado para dar cor, colocar esteiras novas de junco, feitas por mim, com junco que durante o ano eu ia apanhar ao campo, fazer feixes, traze-los à cabeça, colocá-lo numa eira para secar, no fim de seco fazia as esteiras aos serões, depois de terminar as tarefas da casa.
Desfiar palha das espigas do milho para encher os colchões e travesseiros onde dormiamos.
Retirar toda a louça da cantareira lavá-la e voltar a coloca-la, louça que só usávamos uma vez no ano, no dia de Páscoa, o único dia do ano em que eu estreava roupa nova e uns tamancos.
Neste dia ia à missa, como todas as pessoas da Aldeia, tinha que beijar os pés de um bonequinho de barro que diziam ser o Menino Jesus.
Vinha para casa colocar junco muito verdinho (que eu apanhava no campo no sábado) no pátio e à entrada do portão, para receber o padre que logo aparecia depois da missa, ia benzer a casa e buscar o folar, dinheiro colocado pelo meu pai num prato, que o padre retirava e deixava umas poucas de amêndoas muito pequeninas, mas saborosas, ao sair o portão, dois senhores que o acompanhavam acendiam um ou dois foguetes, dependia da quantidade do folar.
Depois almoçava-mos e seguia para casa do meu padrinho e da minha madrinha, tanto um como o outro, o folar que me davam eram iguais todos os anos, em casa de cada um encontrava uma mesa com uma toalha branca, composta com pratos de tremoços e azeitonas, pão e vinho, comia até me apetecer, depois davam-me um pão. Simplesmente.
De volta passava a um pinhal onde apanhava flores iguais a estas, chamava-lhe "campainhas da Páscoa" chegava a casa despia a roupa nova e os tamancos, que só voltava a usava aos domingos para ir à missa.
Foto minha
E assim foi o dia de Páscoa durante alguns anos, de uma criança, que não foi criança. Eu.